quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Por todos os dias da...tua vida!


Mudança empilhada na casa da mãe, caminhão ia chegar as 9:00 da manhã, tinha acabado de sair do resguardo e aguardava ansiosa a sua volta. O telefone tocou...meu pai atendeu...começou a ficar nervoso, não conseguia entender e passou pra mim...
"Você conhece um Uno preto, com placa de Joinville, com um adesivo de uma empresa chamada Bumerangue? Tinha esse número de telefone no carro...”.
Se a voz no telefone não era dele me comunicando, sabia que algo estava errado...
"Liga pra polícia, eles podem te dar maiores informações”.
O tempo começou a passar mais lento depois desse telefonema...
“... olha... tinham três no carro, o que estava dirigindo, um loirinho esta bem, não aconteceu nada com ele. O maior de todos está a caminho do hospital, não sabemos se vai chegar vivo. Infelizmente o menorzinho morreu na hora”.
Desliguei...Desespero, ironia, sarcasmo, choro...Ridículo. Não acreditava, estava achando tudo simplesmente ridículo... O dia mais longo que vivi...Um caminhão no trevo de Irani fez com que esse domingo fosse o maior e mais estranho até então...
Domingo, 01 de julho de 2001. Cinco dias antes do meu aniversário, tínhamos planejado passar nossa primeira noite juntos após o resguardo comemorando com um jantar romântico no nosso apartamento. Deixaríamos a Maria Eduarda com meus pais, e pela primeira vez fiz ele prometer que não faria nenhuma surpresa... “Nada de festas surpresas... quero apenas nós dois... na nossa casa”.
Só conseguia pensar na nossa despedida, e pensamentos iam e vinham num descompasso acelerado...
"Ele viajou pra economizar oitenta reais...", “... ele não queria ir”, “... ele não escreveu no álbum da Duda...", “... eu pedi pra ele não ir”, “... dessa vez eu não pedi pro meu anjo da guarda acompanhar ele”, “... mania de não querer dormir no hotel depois do evento”, "A gente deveria ter feito amor antes d'ele viajar”, "O que eu faço? Vou buscar ele?”, "Ele não gosta de ficar sozinho. Ele deve estar com medo...", “... não fica com medo Vida... não fica”.
E foi assim por muito tempo, frases soltas surgiam numa seqüência que pra mim era lógica. Nos falamos na noite anterior, ele pediu pra eu ligar pra Dani ir vê-lo, minha amiga que foi nossa madrinha de casamento...Ironia do destino foi ela quem fez a pior parte...
Ele chegou a noite, primeiro me entregaram as alianças num envelope, cena mórbida que jamais esquecerei. Tínhamos duas, uma do casamento e uma que ele comprou no dia que completamos um ano de casados. Usávamos as duas...Tínhamos orgulho daquelas alianças...Desenhamos juntos...Quadrada, com um diamante...Tinha um significado especial. Marcava a verdadeira escolha pelo amor...diferente da aliança de noivado. A troca foi proposital.
Eu queria trocar a roupa dele, colocar um terno que ele amava, um par de meias que ele gostava muito, mas a Dani pediu muito no telefone pra eu não trocar. Quando o vi...ele estava lindo. Sim, um pouco inchado, mas suas mãos estavam quentes. Pedi pra Dani não deixar tirar uma barbichinha que ele tinha que eu adorava. Ela fez tudo perfeito. As mãos dele estavam tão lindas. Ele era muito vaidoso, ia semanalmente fazer as unhas. Naquela semana ( soube disso dias depois), ele tinha ido à Jane (a amiga cabeleireira) e havia dito que agora sim, tinha tudo que queria...o apartamento tinha ficado pronto, uma mulher que amava e a filha que sempre quis. Não lembro da minha filha naquele dia. Sei que tentei amamentar, mas ela (ou eu) não conseguia. Uma amiga fez isso por mim, cuidou dela com carinho e como ainda estava amamentando seus filhos, alimentou a minha também.
Lembro de pouca coisa desse dia. Tenho flashes. Lembro de algumas pessoas, outras não. Lembro de algumas cenas, outras não. Mas a cena que mais marcou, foi na hora de carregarem o caixão (não queria escrever essa palavra, não gosto. Pesada, mas não achei outra.). Tinha muita gente naquele local, isso estava me deixando agoniada porque sabia que eram poucos que estavam ali que realmente gostavam dele. A grande maioria estava ali por minha causa, isso me incomodava. Por favor, não me entendam mal, naquele momento tinha uma guerra dentro de mim, mas quando olhei as pessoas que o seguraram, que carregaram o Claudinei nos últimos momentos, fiquei em paz...Cada alça estava com alguém que o amava também. Cada um segurava uma lembrança do verdadeiro Claudinei. Cada lado era composto por pessoas que o conheciam como eu o conheci. Cada passo difícil e pesado foi revezado por amigos que quebraram a barreira que poucos conseguiram. Foi difícil deixar ele ir. Ele não gostava de silêncio, de ficar sozinho. Era materialista, e eu como espiritualista fiquei triste por saber do seu sofrimento, por ter que deixá-lo ir sozinho. É engraçado escrever isso: "por ter que deixá-lo", afinal quem deixou quem? Ele que partiu, ou fui eu que fiquei? Foi a vida dele que acabou, ou foi a minha vida que modificou? Foram os sonhos dele que foram sepultados, ou os meus que tive que deixar serem lacrados? Demorei pra entender, demorei pra sentir, demorei pra seguir...Demorei pra aceitar que o "por todos os dias da nossa vida" não era pra sempre.


Essa foto foi tirada no último evento que o Claudiney (com Y porque ele queria) realizou, na cidade de Chapecó. Horas depois, ao término do evento, voltando pra casa, parou num posto porque estava cansado. Passou a direção para o amigo, pois não queria dormir ao volante. Dez minutos depois, passaram direto pelo trevo de Irani. Eles não tinham a preferência. Um caminhão bateu na lateral do carro, do lado do passageiro, onde provavelmente o Clau dormia com a cabeça encostada na janela, como de costume. Ele morreu na hora, e graças a Deus foi o único. O "menorzinho" de todos virou uma luz e um exemplo em minha vida, e como cantou o poeta, e fiz questão de colocar na lápide..."Nada vai conseguir mudar o que ficou".

Um comentário:

Unknown disse...

Não tem como não se emocionar.... não tem como responder muitas perguntas que surgem nesse momento... resta pensar que um dia teremos todas essas respostas...A única coisa que posso dizer, é que estaremos sempre ao seu lado.... Bj grande