segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Essa é a minha filha!

Num final de semana qualquer, onde eu tenho por ritual demorar cerca de uma hora para preparar o café da manhã e mais uma hora para come-lo, eu e minha filha estavamos nos deliciando com nosso suco de laranja com mamão, pão na chapa, frutinhas que gostamos, café pra mim, nescau pra ela e mais umas coisitas...ouvindo Roberta Sá.
Ambas estavamos entusiasmadas cantando quando comecei a cantar direcionado pra ela:

"Não vá subir na Laranjeira, veja lá...
Não vá subir na Laranjeira, veja lá...
Se você cair do galho eu não vou te levantar."

Ela olhou sorrindo pra mim e dando os ombros diz:

"E dai...se eu cair, eu levanto sozinha."

Essa é a minha filha...



sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Pai

Mais um homem da minha vida dizendo adeus...
Meu pai foi meu porto seguro. Eu era sua filha, amiga, esposa,...
Eu e minha irmã costumavamos dizer que ela era(é) o xodó da mãe e eu a do Pai.
Ele foi internado no dia 21 de agosto deste ano com uma forte falta de ar. Herdei dele a bronquite asmática. Nosso médico nos receitou medicamento para o resto da vida. Fiquei com seu estoque.
Chegando ao hospital, teve uma parada respiratória, seguida de parada cardiaca.Reanimaram em dois minutos, permaneceu sedado e entubado no hospital até o dia 30 de agosto, onde teve que ir.
Com os dias seu quadro foi piorando. Sem vaga na UTI, acabou ficando na emergência aguardando vaga até que o quadro piorou muito, e ops...agora sim surgiu uma vaga, mas já estava com pneumonia e infecção hospitalar.
O quadro não melhorava, e por fim veio o diagnóstico de SARA( Sindrome de Angústia Respiratória Aguda), onde o prognóstico é horrível. Ele não parava de fazer broncoespasmo, e então não conseguiam tratar a SARA.
Os médicos não cansavam de nos informar que o quadro dele era o mais preocupante da UTI, até mesmo mais preocupante que os casos de Gripe A.
As informações oficiais sempre chegavam com atrasos, mas como temos muitos amigos médicos, enfermeiros, acabavamos sabendo das reais notícias um dia antes, e o boletim médico oficial só chegava no outro dia as 15:00hrs. Antes disso se pediamos qualquer informação, a única coisa que ouviamos era: O estado dele é gravissímo.
Com as visitas restritas devido a Gripe A na cidade, foi muito difícil não estar com o pai nesses dias. Acordar e não poder saber como ele passou a noite, me consumia. Não trocar olhar com ele, era terrível. Não ouvir sua voz nesses dias, me torturava. E eu tinha que me manter serena, pois sabia que a única coisa que salvaria meu pai, que o traria de volta pra casa era não ser a sua hora, e então nossas preces e pensamentos positivos ajudariam.
Por esse motivo, me irritava com os médicos frios, que a todo momento queriam que eu enxergasse que meu pai partiria. Eu não estava tapando o sol com a peneira, eu simplesmente não aceitaria a morte enquanto ela não chegasse.
Na segunda, primeiro dia de UTI, os médicos disseram que ele não passaria da noite. Nesse dia deixaram minha mãe se despedir, minha irmã, e eu ainda fui a noite fora do horário. Por fim, ele não só resistiu naquela segunda, como também passou pela primeira sessão de Dialise e ainda teve resposta positiva. Ao todo passou por sete sessões. Eu vibrava com as pequenas notícias: "não estamos mais usando tanta adrenalina"; "os exames de sangue melhoraram"; "ele não esta mais com o máximo do aparelho respirador"; "a saturação de O2 subiu".
Enfim, era isso que me dava esperança. Sim, a esperança dói...doeu quando estava lendo na internet sobre SARA e lia que todos os depoimentos eram de pessoas que perderam seus familiares, mas o que mais me fez chorar foi um depoimento que começava assim: "Eu tive SARA." Nossa, quando li isso chorei muito, pois achei minha esperança ali. Meu pai poderia sobreviver. Então passei a fazer o que sei fazer de melhor. Orar e ter Fé. Servi de ponte pra ele no Centro Espirita, e fiz a minha parte para que soubesse que caso ele tivesse que partir, não seria por falta de preces, nem de pensamentos positivos.
Não posso ser injusta, os médicos, mesmo que frios,alguns(obrigada Dra. Gabriela a médica com o olhar mais doce que me passou o boletim médico; foi muito importante.), todos eram excelentes, e sei que fizeram o melhor. A equipe de enfermagem estava constantemente atenta. A moça que fazia a Dialise, a única que conversava mesmo comigo, um amor de pessoa. A atenção faz a diferença para os familiares, infelizmente não lembro seu nome. O Dr. D'Áquino, que cuidou do meu pai enquanto ele não foi internado. Cuidou dele por 20 anos. Fiz questão de ir a consulta que estava agendada para dois dias depois que ele faleceu. Ele me atendeu dizendo: "então o paizinho foi embora?...". Ele me deixou chorar.
Percebi nesse momento que a frieza de certas pessoas dentro do hospital era total falta de controle emocional. Pois quando alguém chega falando doce com você nessa situação, eles te dão espaço pra você sentir, e por fim mostrar o seu medo e dor. Já se falam com você tecnicamente, e com uma certa frieza, te colocam racional, e consequentemente você se fecha, não abalando quem esta na sua frente. Desculpem, posso até entender, mas não deixa de ser uma atitude egoista.
Quando você passa por uma situação dessa, você vibra com cada pessoa que recebe alta, e ao mesmo tempo, sofre junto com cada perda, mesmo sem ser seu conhecido. É muito importante te darem esperança...mesmo que por pouco tempo. Se meu pai estava lá, sedado, entubado, forte como um touro(palavras de um médico), que direito eu tinha de me entregar antes da hora? Eu tinha que obedecer a ordem natural das coisas. Quando ele parasse, eu então pararia. E parei, acho que ainda estou parada.
Já passei por isso, mas digo, a diferença é grande. Sofri demais com a perda do meu marido, sofri demais com perdas vivas, mas a partida de meu pai foi serena. Dói, dói sim...sofro pouco, pois não me permito sofrer, quando muito permito sentir a dor.
Quando meu marido morreu, por mais que tivesse que resolver a grande maioria das coisas sozinhas, eu tinha meu pai ali. Simplesmente por estar ali. Ele esteve comigo a vida inteira, e sempre...sempre do meu lado.
É estranho não ter mais ele todo sujo mexendo no quintal, orgulhoso de suas bananeiras...é estranho não chegar na casa de meus pais e ver ele na frente de casa passeando com a Babi...é estranho chegar na escada da casa onde passei muito tempo e ainda volto todos os dias e não ver no alto ele me recebendo sempre com olhar doce...é estranho não ouvir ele falando com a bisa...sinto falta dos momentos sentada no computador, na frente da TV ligada, com ele dormindo sentado jurando que estava assistindo.
Desliguei a internet lá. Não posso mais sentar ali.
Ele não tinha um espírito; ele é um espírito. Ele tinha um corpo.
Outro dia a Duda acordou (depois de eu rezar a noite implorando a Deus que a permitisse "sonhar" com o vô) e disse: "Mãe, sonhei com o vô. E ele estava vivo."
Ela é muito fechada. Não havia chorado desde que o vô(que cuidava dela todos os dias) havia sido internado. Após o enterro(claro que não a levei), busquei a Duda e no carro conversando sobre o porquê dela ter recusado o abraço de uma amiga, ela então começou a chorar. Muito. Deixei, dei colo, me emocionei(não consigo chorar quando alguém chora) e soprei seu cabelo: "Filha...ta vendo seu cabelo se mexer? É o vento...tenta pegar ele. Não dá? Não ta vendo o vento? Mas ele esta ai. Voce sente né? O Vô agora se parece com o vento, uma brisa...a gente não vê, não toca...mas pode sentir. Ele sempre existirá. "


Agradecimentos

Muita gente esteve muito presente. Muita gente ajudou mesmo...cada um ao seu modo.Não vou poder citar todas as palavras recebidas, o apoio...eles não vão ser deletados...Vou citar alguns dos muitos momentos especiais...

Virgínia e André: Vocês estiveram comigo por muitos momentos. Tanto no trabalho espiritual, quanto no operacional mesmo. Deram colo, a Vi até comeu pizza cheia de queijo...Notícias reais me chegavam, com serenidade...A Vi, mesmo sendo enfermeira e sabendo da gravidade da situação em nenhum momento tentou tirar a minha fé, muito pelo contrário...isso é ser profissional, humana e amiga.

Simone: sei o quanto você encheu o saco do ex ex marido pra obter informações.

Laci: cuidou da mãe. Ficou presente constantemente. Poucos conhecem o coração doce e escondido dessa mulher.

Ju e Di: Ficaram ao meu lado quando tive que resolver as coisas práticas e funebres. Sei o quanto foi difícil entrar comigo "naquela sala" prima, sei que a tua dor foi igual a minha. Ele vai dançar no dia...e você vai sorrir ao lembrar.

Pati: cuidou da minha irmã, que juntas ficaram constantemente ao lado da minha mãe. Já te disse que você fez a diferença nessa hora.

Rafa e Deise: fizeram Reike. Energias positivas quando precisamos.

Gi: obrigada por vir prontamente e ficar com minha familia. A tua amizade sincera com a Dê foi super importante.

Déa e Caro: largaram tudo e se jogaram de outra cidade pra me dar um abraço. Minha prima amiga e minha amEguinha, ambas dividiram apartamento comigo na faculdade. Início da prática diária de sobrevivência foi com elas...rs.

Tati: teu silêncio foi cheio de palavras amiga. Tua energia e serenidade esteve comigo constantemente.

Tati(Corbélia) e Dani (Chapecó): Que falta fazem. Um telefonema, uma mensagem e se fizeram presentes. Tati é um pouco mãe. Dani é um pouco irmã.

Nê, Carol e Dr. Aldo: agilizaram todo a minha agenda na Clínica.

Catia: me deu força e esperança. Passou por maus bocados e a fé venceu. Foi primordial neste momento te ouvir.

Jana e Luka: Ficaram com a Duda. Foi muito importante a segurança e cuidado que deram nos momentos em que eu não poderia.

Fran: é sempre bom ter uma amiga despachada e sem medidas nessas horas. Me colocou no telefone com o médico quando eu não tinha notícias do que estava acontecendo.

Pri e Aron: a presença, o choro...sei o que reviveram...

Aninha: obrigada pelo teu abraço descalça(eu percebi)...e por não duvidar do meu profissionalismo num momento desse.

Familia Carreira: telefonemas diários de Portugal. Verdadeiros pais de meu pai. Irmãs de coração. Estavem presentes em pensamento e no mural.

Dra. Gariela (UTI Regional) e Dra. Thais: obrigada pelas palavras doces nos momentos em que a esperança diminuia. O Racionalismo não foi maior que o Humanismo. Isso é ser Doutora de Almas.

Padre Bertino: Um Ser Humano. Ele vive a caridade muito mais que sua própria igreja.

Kátia: a música fez a diferença. Nosso Deus é lindo sim amiga.

Duda: Obrigada por escolher estar do meu lado nesta encarnação. Por ser adulta e criança. Por me deixar chorar. Por me ouvir. Por sonhar. Te amo do tamanho do universo pra sempre.


Agradeço do fundo do coração todos os telefonemas e as mensagens no celular, no orkut, nos sonhos...obrigada pela presença no dia D...obrigada pelos abraços e olhares...obrigada pelo silêncio.

P.S: Desculpem se não citei todos. O psiquiatra ta desconfiando de Déficit de Atenção mais que Depressão...