segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Essa é a minha filha!

Num final de semana qualquer, onde eu tenho por ritual demorar cerca de uma hora para preparar o café da manhã e mais uma hora para come-lo, eu e minha filha estavamos nos deliciando com nosso suco de laranja com mamão, pão na chapa, frutinhas que gostamos, café pra mim, nescau pra ela e mais umas coisitas...ouvindo Roberta Sá.
Ambas estavamos entusiasmadas cantando quando comecei a cantar direcionado pra ela:

"Não vá subir na Laranjeira, veja lá...
Não vá subir na Laranjeira, veja lá...
Se você cair do galho eu não vou te levantar."

Ela olhou sorrindo pra mim e dando os ombros diz:

"E dai...se eu cair, eu levanto sozinha."

Essa é a minha filha...



sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Pai

Mais um homem da minha vida dizendo adeus...
Meu pai foi meu porto seguro. Eu era sua filha, amiga, esposa,...
Eu e minha irmã costumavamos dizer que ela era(é) o xodó da mãe e eu a do Pai.
Ele foi internado no dia 21 de agosto deste ano com uma forte falta de ar. Herdei dele a bronquite asmática. Nosso médico nos receitou medicamento para o resto da vida. Fiquei com seu estoque.
Chegando ao hospital, teve uma parada respiratória, seguida de parada cardiaca.Reanimaram em dois minutos, permaneceu sedado e entubado no hospital até o dia 30 de agosto, onde teve que ir.
Com os dias seu quadro foi piorando. Sem vaga na UTI, acabou ficando na emergência aguardando vaga até que o quadro piorou muito, e ops...agora sim surgiu uma vaga, mas já estava com pneumonia e infecção hospitalar.
O quadro não melhorava, e por fim veio o diagnóstico de SARA( Sindrome de Angústia Respiratória Aguda), onde o prognóstico é horrível. Ele não parava de fazer broncoespasmo, e então não conseguiam tratar a SARA.
Os médicos não cansavam de nos informar que o quadro dele era o mais preocupante da UTI, até mesmo mais preocupante que os casos de Gripe A.
As informações oficiais sempre chegavam com atrasos, mas como temos muitos amigos médicos, enfermeiros, acabavamos sabendo das reais notícias um dia antes, e o boletim médico oficial só chegava no outro dia as 15:00hrs. Antes disso se pediamos qualquer informação, a única coisa que ouviamos era: O estado dele é gravissímo.
Com as visitas restritas devido a Gripe A na cidade, foi muito difícil não estar com o pai nesses dias. Acordar e não poder saber como ele passou a noite, me consumia. Não trocar olhar com ele, era terrível. Não ouvir sua voz nesses dias, me torturava. E eu tinha que me manter serena, pois sabia que a única coisa que salvaria meu pai, que o traria de volta pra casa era não ser a sua hora, e então nossas preces e pensamentos positivos ajudariam.
Por esse motivo, me irritava com os médicos frios, que a todo momento queriam que eu enxergasse que meu pai partiria. Eu não estava tapando o sol com a peneira, eu simplesmente não aceitaria a morte enquanto ela não chegasse.
Na segunda, primeiro dia de UTI, os médicos disseram que ele não passaria da noite. Nesse dia deixaram minha mãe se despedir, minha irmã, e eu ainda fui a noite fora do horário. Por fim, ele não só resistiu naquela segunda, como também passou pela primeira sessão de Dialise e ainda teve resposta positiva. Ao todo passou por sete sessões. Eu vibrava com as pequenas notícias: "não estamos mais usando tanta adrenalina"; "os exames de sangue melhoraram"; "ele não esta mais com o máximo do aparelho respirador"; "a saturação de O2 subiu".
Enfim, era isso que me dava esperança. Sim, a esperança dói...doeu quando estava lendo na internet sobre SARA e lia que todos os depoimentos eram de pessoas que perderam seus familiares, mas o que mais me fez chorar foi um depoimento que começava assim: "Eu tive SARA." Nossa, quando li isso chorei muito, pois achei minha esperança ali. Meu pai poderia sobreviver. Então passei a fazer o que sei fazer de melhor. Orar e ter Fé. Servi de ponte pra ele no Centro Espirita, e fiz a minha parte para que soubesse que caso ele tivesse que partir, não seria por falta de preces, nem de pensamentos positivos.
Não posso ser injusta, os médicos, mesmo que frios,alguns(obrigada Dra. Gabriela a médica com o olhar mais doce que me passou o boletim médico; foi muito importante.), todos eram excelentes, e sei que fizeram o melhor. A equipe de enfermagem estava constantemente atenta. A moça que fazia a Dialise, a única que conversava mesmo comigo, um amor de pessoa. A atenção faz a diferença para os familiares, infelizmente não lembro seu nome. O Dr. D'Áquino, que cuidou do meu pai enquanto ele não foi internado. Cuidou dele por 20 anos. Fiz questão de ir a consulta que estava agendada para dois dias depois que ele faleceu. Ele me atendeu dizendo: "então o paizinho foi embora?...". Ele me deixou chorar.
Percebi nesse momento que a frieza de certas pessoas dentro do hospital era total falta de controle emocional. Pois quando alguém chega falando doce com você nessa situação, eles te dão espaço pra você sentir, e por fim mostrar o seu medo e dor. Já se falam com você tecnicamente, e com uma certa frieza, te colocam racional, e consequentemente você se fecha, não abalando quem esta na sua frente. Desculpem, posso até entender, mas não deixa de ser uma atitude egoista.
Quando você passa por uma situação dessa, você vibra com cada pessoa que recebe alta, e ao mesmo tempo, sofre junto com cada perda, mesmo sem ser seu conhecido. É muito importante te darem esperança...mesmo que por pouco tempo. Se meu pai estava lá, sedado, entubado, forte como um touro(palavras de um médico), que direito eu tinha de me entregar antes da hora? Eu tinha que obedecer a ordem natural das coisas. Quando ele parasse, eu então pararia. E parei, acho que ainda estou parada.
Já passei por isso, mas digo, a diferença é grande. Sofri demais com a perda do meu marido, sofri demais com perdas vivas, mas a partida de meu pai foi serena. Dói, dói sim...sofro pouco, pois não me permito sofrer, quando muito permito sentir a dor.
Quando meu marido morreu, por mais que tivesse que resolver a grande maioria das coisas sozinhas, eu tinha meu pai ali. Simplesmente por estar ali. Ele esteve comigo a vida inteira, e sempre...sempre do meu lado.
É estranho não ter mais ele todo sujo mexendo no quintal, orgulhoso de suas bananeiras...é estranho não chegar na casa de meus pais e ver ele na frente de casa passeando com a Babi...é estranho chegar na escada da casa onde passei muito tempo e ainda volto todos os dias e não ver no alto ele me recebendo sempre com olhar doce...é estranho não ouvir ele falando com a bisa...sinto falta dos momentos sentada no computador, na frente da TV ligada, com ele dormindo sentado jurando que estava assistindo.
Desliguei a internet lá. Não posso mais sentar ali.
Ele não tinha um espírito; ele é um espírito. Ele tinha um corpo.
Outro dia a Duda acordou (depois de eu rezar a noite implorando a Deus que a permitisse "sonhar" com o vô) e disse: "Mãe, sonhei com o vô. E ele estava vivo."
Ela é muito fechada. Não havia chorado desde que o vô(que cuidava dela todos os dias) havia sido internado. Após o enterro(claro que não a levei), busquei a Duda e no carro conversando sobre o porquê dela ter recusado o abraço de uma amiga, ela então começou a chorar. Muito. Deixei, dei colo, me emocionei(não consigo chorar quando alguém chora) e soprei seu cabelo: "Filha...ta vendo seu cabelo se mexer? É o vento...tenta pegar ele. Não dá? Não ta vendo o vento? Mas ele esta ai. Voce sente né? O Vô agora se parece com o vento, uma brisa...a gente não vê, não toca...mas pode sentir. Ele sempre existirá. "


Agradecimentos

Muita gente esteve muito presente. Muita gente ajudou mesmo...cada um ao seu modo.Não vou poder citar todas as palavras recebidas, o apoio...eles não vão ser deletados...Vou citar alguns dos muitos momentos especiais...

Virgínia e André: Vocês estiveram comigo por muitos momentos. Tanto no trabalho espiritual, quanto no operacional mesmo. Deram colo, a Vi até comeu pizza cheia de queijo...Notícias reais me chegavam, com serenidade...A Vi, mesmo sendo enfermeira e sabendo da gravidade da situação em nenhum momento tentou tirar a minha fé, muito pelo contrário...isso é ser profissional, humana e amiga.

Simone: sei o quanto você encheu o saco do ex ex marido pra obter informações.

Laci: cuidou da mãe. Ficou presente constantemente. Poucos conhecem o coração doce e escondido dessa mulher.

Ju e Di: Ficaram ao meu lado quando tive que resolver as coisas práticas e funebres. Sei o quanto foi difícil entrar comigo "naquela sala" prima, sei que a tua dor foi igual a minha. Ele vai dançar no dia...e você vai sorrir ao lembrar.

Pati: cuidou da minha irmã, que juntas ficaram constantemente ao lado da minha mãe. Já te disse que você fez a diferença nessa hora.

Rafa e Deise: fizeram Reike. Energias positivas quando precisamos.

Gi: obrigada por vir prontamente e ficar com minha familia. A tua amizade sincera com a Dê foi super importante.

Déa e Caro: largaram tudo e se jogaram de outra cidade pra me dar um abraço. Minha prima amiga e minha amEguinha, ambas dividiram apartamento comigo na faculdade. Início da prática diária de sobrevivência foi com elas...rs.

Tati: teu silêncio foi cheio de palavras amiga. Tua energia e serenidade esteve comigo constantemente.

Tati(Corbélia) e Dani (Chapecó): Que falta fazem. Um telefonema, uma mensagem e se fizeram presentes. Tati é um pouco mãe. Dani é um pouco irmã.

Nê, Carol e Dr. Aldo: agilizaram todo a minha agenda na Clínica.

Catia: me deu força e esperança. Passou por maus bocados e a fé venceu. Foi primordial neste momento te ouvir.

Jana e Luka: Ficaram com a Duda. Foi muito importante a segurança e cuidado que deram nos momentos em que eu não poderia.

Fran: é sempre bom ter uma amiga despachada e sem medidas nessas horas. Me colocou no telefone com o médico quando eu não tinha notícias do que estava acontecendo.

Pri e Aron: a presença, o choro...sei o que reviveram...

Aninha: obrigada pelo teu abraço descalça(eu percebi)...e por não duvidar do meu profissionalismo num momento desse.

Familia Carreira: telefonemas diários de Portugal. Verdadeiros pais de meu pai. Irmãs de coração. Estavem presentes em pensamento e no mural.

Dra. Gariela (UTI Regional) e Dra. Thais: obrigada pelas palavras doces nos momentos em que a esperança diminuia. O Racionalismo não foi maior que o Humanismo. Isso é ser Doutora de Almas.

Padre Bertino: Um Ser Humano. Ele vive a caridade muito mais que sua própria igreja.

Kátia: a música fez a diferença. Nosso Deus é lindo sim amiga.

Duda: Obrigada por escolher estar do meu lado nesta encarnação. Por ser adulta e criança. Por me deixar chorar. Por me ouvir. Por sonhar. Te amo do tamanho do universo pra sempre.


Agradeço do fundo do coração todos os telefonemas e as mensagens no celular, no orkut, nos sonhos...obrigada pela presença no dia D...obrigada pelos abraços e olhares...obrigada pelo silêncio.

P.S: Desculpem se não citei todos. O psiquiatra ta desconfiando de Déficit de Atenção mais que Depressão...

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Eu acredito em Duendes



Esse ano, na Páscoa, minha filha resolveu perguntar se o coelhinho da páscoa existia mesmo. Pensei em como dizer a ela "a verdade", sem cortar seus sonhos de criança. Então com todo cuidado, disse que achava que na verdade o coelhinho da páscoa eram os pais e amigos das crianças que deixavam os ovinhos escondidos. Ela mais que depressa me fez lembrar de um dia quando ela acordou e viu as marcas das patas no chão por toda a casa."...eram marcas iguais as patinhas e todas molhadas de chocolate mamãe..."
Resumindo acabei por dizer que realmente o coelhinho da páscoa existia. E não menti.
Papai Noel, Coelho da Páscoa, Fada do dente, Duendes...sim, eles de uma certa forma existem.
O momento foi tão mágico naquele natal em que ela viu apenas um vulto vermelho logo depois de ouvir a campainha e viu a bicicleta no final da escada; ou as marcas das patas do coelho pela casa, embora ao acordar meus dedos ainda estivessem doces do nescau. Como dizer que eles não existem. Ela sentiu, ela viveu. Eu participei daquele momento mágico. Sou testemunha ocular e sensitiva de que ela estava correta, e que eu não a enganava e sim participava e sentia junto. Menti? Não, não menti.
Segundo uma tal Teoria da Mentira: "o objetivo da mentira é nos impedir de distinguir o verdadeiro do falso. É confundir, é iludir, é enganar e, assim, nos levar a tomar decisões erradas (para nós), mas que beneficiam quem criou e espalhou a mentira”.Portanto, se não foi esse meu objetivo, não menti.
O que me remete a pensar em todas as vezes que me achei mentirosa ou enganada. Menti mesmo quando coloquei a moeda embaixo do travesseiro? Mentiram pra mim, ou acreditavam naquilo? A teoria da mentira não é assim tão simples.
Lá vou eu me recitar: Sinto, logo existo. E completo. Se amo, sinto, não minto...vivo junto a mesma verdade, a nossa verdade.
Eu posso ter espalhado marcas pela casa, posso ter me vestido de papai noel, posso ter dito que era a Babi mexendo a cortina enquanto ela chorava de um pesadelo achando ser um fantasma. Mas não aceito dizer que menti, fantasiei sim, mas o objetivo não era enganá-la e sim fazê-la feliz.
Cuidado, não use essa "teoria" pra desculpar suas mentiras... Ela ainda não esta comprovada. Ela é apenas sentimento. Estou apenas fantasiando a mentira...
Mentiras existem sim. Já as usei em meu benefício e nem me lembro se foram descobertas.
Um dia a Duda vai saber que não eram marcas do coelho pela casa, mas o sorriso dela foi verdadeiro. Isso nunca mais vai ser apagado. Eu era o próprio coelho, portanto o coelho da páscoa existiu sim. Logo, eu posso acreditar em Duendes. Afinal, eles estavam no quintal da minha casa quando eu era criança. Eu vi...

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Voltando de Marrakesh


Faz pouco tempo, estava lendo um blog que acompanho e admiro e eis que me deparo com uma frase que me perturbou por semanas: " Triste é um pai que dá o exemplo de resignação, indiferença emocional e ausência de envolvimento." Fabricio Carpinejar tem o dom de dar tapas e nem sempre vem acompanhados de pelicas. Este sem dúvida me deixou roxa por semanas. Achava-me a mãezona protegendo minha cria de possíveis relacionamentos fadados ao fracasso e outros que até tinham um prognóstico favorável, porém eis que me vejo assutada com a possibilidade de até então ter passado a imagem de uma mãe fria, indiferente e auto-suficiente em matéria de amor. Não pretendo me justificar com quem me observa, porém preciso tentar achar uma justificativa pra esse "medo transmissível". Pensei que pelo fato de minha filha não ter lembranças de um pai e querer tanto um, pudesse se frustrar em criar expectativas em cima de um possível candidato. E como admitir a ela que eu não tinha intenção de achar-lhe um pai? Sim espero por alguém, um dia, ou por uns dias, mas não seria eu injusta em privar essa oportunidade a minha filha? Como conseguir um pai sem ter um marido? Porque as pessoas precisam tanto do convencional? Me irrito muitas vezes com perguntas sem maldade expressas...Costumo responder que já fiz meu papel na sociedade, já me formei, já casei, já tive filho...Pronto. Mas sempre há espaço: Já casou novamente? Não quer mais filhos? Sinceramente não sei bem o que quero, mas sei o que não quero.
Não quero ser cobrada se gosto de sexo e sei separar isso de amor. Gosto sim, e muito.
Não quero ser indagada se não pretendo mais casar. Simplesmente não planejo... Não encontro um casamento no Angeloni...senão parcelaria no cartão e devolveria caso não fosse o que procurava.
Não acredito no pra sempre, mas isso não me tira o direito de sonhar e tão pouco me torna uma pessoa fria.
Amo minha filha sim incondicionalmente, e isto não discuto, mas isso não me faz querer, por hora, outro filho.
Não consigo deixar uma boa roda de samba pelo homem mais lindo a me olhar, isso não quer dizer que não podemos nos ver depois do Boa Noite.
Faço o que gosto e não deixarei de fazer por relacionamentos, posso apenas negociar. Nunca abandonar.
Agora, não quero de forma alguma passar, mesmo que sublinarmente, a mensagem de que sou indiferente emocionalmente. Não sou. Amo muito, me apaixono sempre, me dedico a quem amo, apenas não sei ainda dividir isso com minha filha, e quiçá com o outro.
Depois que li Fabrício ousei chorar na frente de minha filha, ela me deu colo, ficou em silêncio e chorou também. Foi o silêncio mais confortante que recebi. Nosso silêncio tem som. Diria que uma sinfonia iluminada...



"Esse papo meu tá qualquer coisa e você tá pra lá de Teerã...”.



terça-feira, 17 de março de 2009

Ode ao gato


Os animais foram imperfeitos, compridos de rabo, tristes de cabeça. Pouco a pouco se foram compondo, fazendo-se paisagem, adquirindo pintas, graça, vôo. O gato, só o gato apareceu completo e orgulhoso: nasceu completamente terminado, anda sozinho e sabe o que quer.


O homem quer ser peixe e pássaro, a serpente quisera ter asas, o cachorro é um leão desorientado, o engenheiro quer ser poeta, a mosca estuda para andorinha, o poeta trata de imitar a mosca, mas o gato quer ser só gato e todo gato é gato do bigode ao rabo, do pressentimento à ratazana viva, da noite até os seus olhos de ouro.


Não há unidade como ele, não tem a lua nem a flor tal contextura: é uma coisa só como o sol ou o topázio, e a elástica linha em seu contorno firme e sutil é como a linha da proa de uma nave. Os seus olhos amarelos deixaram uma só ranhura para jogar as moedas da noite.


Oh pequeno imperador sem orbe, conquistador sem pátria, mínimo tigre de salão, nupcial sultão do céu das telhas eróticas, o vento do amor na imterpérie reclamas quando passas e pousas quatro pés delicados no solo, cheirando, desconfiando de todo o terrestre, porque tudo é imundo para o imaculado pé do gato.


Oh fera independente da casa, arrogante vestígio da noite, preguiçoso, ginástico e alheio, profundissimo gato, polícia secreta dos quartos, insignia de um desaparecido veludo, certamente não há enigma na tua maneira, talvez não sejas mistério, todo o mundo sabe de ti e pertence ao habitante menos misterioso, talvez todos acreditem, todos se acreditem donos, proprietários, tios de gatos, companheiros, colegas, díscipulos ou amigos do seu gato.


Eu não. Eu não subscrevo. Eu não conheço o gato. Tudo sei, a vida e seu arquipélago, o mar e a cidade incalculável, a botânica, o gineceu com os seus extrávios, o pôr e o menos da matemática, os funis vulcânicos do mundo, a casaca irreal do crocodilo, a bondade ignorada do bombeiro, o atavismo azul do sacerdote, mas não posso decifrar um gato. Minha razão resvalou na sua indiferença, os seus olhos tem números de ouro.


(Navegaciones y Regresos, 1959)
Pablo Neruda

sexta-feira, 13 de março de 2009

Eu e o Lucas

Faz algumas semanas que eu entrei em comum acordo com a Duda para adquirirmos um animal de estimação. Já havia tentado com peixes, mas todos os três morreram. Pensei numa tartaruga, um rato, chinchila, tudo menos aves claro, mas ela queria um que pudesse tocar, brincar, acariciar, e eu claro um que eu pudesse me incomodar o menos possível e colocar numa gaiola quando viajasse.Sempre tive cachorros, gosto muito deles, mas como moro em "apertamento" e passo pouco tempo em casa acho triste ter que deixá-lo sozinho, seria muito egoísmo. A Babi, a poodle que foi minha preparação para um filho de verdade, hoje esta sob os cuidados do meu pai. Enfim, pensamos, conversamos e concordamos em adotar um gato. Não fazia idéia de como cuidar de um, mas sabia por amigos que eles davam menos trabalho e que se viravam muito bem sozinhos.Lá fui eu atrás dos gatos. Coincidentemente três pessoas tinham gatas com uma ninhada de dar inveja a coelhos. Poderia escolher. A Duda bateu os olhos num branquinho, de olhos azuis, praticamente gêmeo de outro, isso pra mim, porque no outro dia quando fomos buscar, ela viu os dois, pegou e disse: " É esse mãe, é esse, o de olhos azuis pequenos. Não o de olhos grandes." Pronto, ela já sabia até a diferença entre dois "iguaizinhos". Estava claro que era aquele o Lucas.

Claro que embora o gato seja da Duda, eu fico a maior parte do tempo com ele. Sempre preferi os cachorros, só agora percebi o quanto da personalidade do gato encontro em mim:

  • O gato, quando bem amado, dedica ao seu dono um amor intenso e incondicional. O que devemos perceber é que, diferente do cão (que considera o dono o líder da "matilha"), o gato nos considera como mais um membro do seu rol de convivência. Sabendo respeitar esse fato, certamente teremos um companheiro para todos os minutos (por isso minhas amigas não devem ter ciúmes, amo todas....);
  • Os gatos apresentam menos problemas com o período noturno do que o cão, quando recém-chegados. Na grande maioria das vezes, dormem, se alimentam e/ou brincam tranqüilos;
  • Ao passo que o cão tem maior adaptação ("molda-se") ao modo de vida da casa, o gato procura exercer sua liberdade, seguindo seus instintos hormonais (viu amigas, não tenho cérebro masculino, e sim instinto felino...rs);
  • Os felinos formam uma sociedade (e um contexto social) bastante complexa. A adaptação deve seguir alguns princípios básicos, evitando-se assim que o gato torne-se não-manipulável. Um desses princípios é não querer impor educação ao gato: devemos mostrar o correto e "conquistar" a aceitação do animal; ele deve aceitar seguir o nosso procedimento. Querer impor algo a um felino é pedir para que ele faça o contrário (acho que ficou claro, não?) ;
  • Os felinos têm uma intermitência acentuada entre sono, alimentação e atividades. Respeite esses períodos;
  • Os gatos domésticos gostam de se alimentar várias vezes ao dia, sempre em pouca quantidade (pequena quantidade, viu Sandra?);
  • No quesito higiene, os felinos usam defecar e/ou urinar em local errado como forma de protesto (sem comentários...) ;
  • Os felinos são muito metódicos e não gostam de mudanças em sua rotina;
  • É extremamente importante para os gatos, socialmente falando, manter suas unhas afiadas(e pintadas, no meu caso);
  • Os gatos são caçadores naturais; contudo, mesmo que você tente humaniza-lo, nunca conseguirá anular esse comportamento (não é ruim isso, eu juro!) ;
  • Só se consegue a amizade do gato, quando seu dono lhe tratar com carinho. (then...so...).

Obrigada a Luigi Leonardo Mazzucco Albano pelo vasto conhecimento em gatos, onde precisei buscar fontes para escrever sobre algo que esta tão enraizado, e ao mesmo tempo, tão obscuro. E obrigada a minha mais nova amiga Fran, que é amante e mãe dedicada de três lindos gatos carinhosamente acolhidos.

Se o Hinduísmo esta realmente certo, acho que já fui um gato...só pode...rs.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

O Idiota e a moeda

Conta-se que numa cidade do interior um grupo de pessoas se divertia com o idiota da aldeia. Um pobre coitado, de pouca inteligência, vivia de pequenos biscates e esmolas. Diariamente eles chamavam o idiota ao bar onde se reuniam e ofereciam a ele a escolha entre duas moedas: uma grande de 400 RÉIS e outra menor de 2.000 RÉIS. Ele sempre escolhia a maior e menos valiosa, o que era motivo de risos para todos.
Certo dia, um dos membros do grupo chamou-o e lhe perguntou se ainda não havia percebido que a moeda maior valia menos .
- Eu sei, respondeu o tolo. Ela vale cinco vezes menos, mas no dia que eu escolher a outra, a brincadeira acaba e não vou mais ganhar minha moeda.
Arnaldo Jabor

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Casa sem quintal


Essa montagem mostra o que aconteceu com o quintal que amava, ou melhor, ainda amo. Eu cresci. Ele não me parece mais tão gigante. Não tem mais viveiros, curral. Não tem mais as plantações de couve, nem a casa centralizada ao fundo. Não tem mais a Suli, a primeira cachorra. E graças a Deus não tem mais o galinheiro. O caminho que me levava pra casa ou para o galinheiro continua lá. As pequenas flores do mato ainda florescem e hoje é minha filha quem as colhe para mim. No lugar da casa cresceu uma enorme árvore, onde meu pai colocou um pequeno balanço pra Duda brincar. Amo essa árvore. O quintal é repleto de bananeiras onde meu pai adora exibir e colher as "diversas qualidades de bananas", como ele bem diz. Perguntam o porquê de não construir uma casa nesse quintal, afinal ainda é bastante grande e facilitaria muito a minha vida deixando a Duda perto com meus pais quando fosse trabalhar. Respondo que sempre penso nisso, que já planejei diversas vezes, que não tiraria a árvore, construiria ao lado. Mas temo. Não mais as galinhas, elas não estão mais lá, temo sim por esse terreno não pertencer somente a uma pessoa. Tem meus pais, meu tio e minha avó. E sempre podem surgir mais donos né? Afinal meu tio tem três filhas, de dois casamentos, e depois também não sou filha única. Não me sentiria segura em colocar minha casa num terreno que mais tarde podem brigar por ele. Acabei comprando um apartamento. Financiado claro, mas é só meu. Posso fazer o que bem quiser com ele, inclusive esta à venda. Quero um mais perto do quintal que não é meu, mas que minha filha possa brincar e colher flores pra mim, e poderei colocar na nossa casa sem quintal, apenas com um cachorrinho prometido num momento de fraqueza, mas que tem a nossa cara. Que nos acolhe, da segurança, e que mesmo com pouco espaço pra brincar, tem uma escada onde nos lambuzamos tomando picolé que não foi prêmio de suborno, e sim desejado ao ouvir o apito gostoso do picolezeiro passando. Corremos pro cofrinho. Catamos as moedas. Então sentamos as duas na escada, olhando pra fora, lambuzando as mãos e o chão com o picolé de cinqüenta centavos mais gostoso do mundo. Ela sabe que ali é nosso, que podemos visitar o vovô, mas que à noite voltaremos pra nossa pequena casa sem quintal, e que a qualquer momento nossa casa pode mudar, e quem sabe até ter um quintal ou um playground, talvez não tão gigante, e talvez tenhamos que compartilhar o parquinho com outras pessoas. Mas é a nossa casa. Só nossa. O quintal, o playground, isso a gente divide. Agora o gosto do picolé na escada da nossa casa...não, esse cada um sente o seu.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Pra não esquecer em 2009

Amor não se implora, não se pede não se espera...Amor se vive ou não.
Ciúmes é um sentimento inútil. Não torna ninguém fiel a você.
Animais são anjos disfarçados, mandados à terra por Deus para mostrar ao homem o que é fidelidade.
Crianças aprendem com aquilo que você faz, não com o que você diz.
As pessoas que falam dos outros pra você, vão falar de você para os outros.
Perdoar e esquecer nos torna mais jovens.
Água é um santo remédio.
Deus inventou o choro para o homem não explodir.
Ausência de regras é uma regra que depende do bom senso.
Não existe comida ruim, existe comida mal temperada.
A criatividade caminha junto com a falta de grana.
Ser autêntico é a melhor e única forma de agradar.
Amigos de verdade nunca te abandonam.
O carinho é a melhor arma contra o ódio.
As diferenças tornam a vida mais bonita e colorida.
Há poesia em toda a criação divina. Deus é o maior poeta de todos os tempos.
A música é a sobremesa da vida.
Acreditar, não faz de ninguém um tolo. Tolo é quem mente.
Filhos são presentes raros.
De tudo, o que fica é o seu nome e as lembranças acerca de suas ações.
Obrigada, desculpa, por favor, são palavras mágicas, chaves que abrem portas para uma vida melhor.
O amor... Ah, o amor...O amor quebra barreiras, une facções, destrói preconceitos,cura doenças...Não há vida decente sem amor!
E é certo, quem ama, é muito amado.E vive a vida mais alegremente...

Artur da Távola



Coisas que a vida ensina todos os dias, ou pelo menos deveria...