terça-feira, 17 de março de 2009

Ode ao gato


Os animais foram imperfeitos, compridos de rabo, tristes de cabeça. Pouco a pouco se foram compondo, fazendo-se paisagem, adquirindo pintas, graça, vôo. O gato, só o gato apareceu completo e orgulhoso: nasceu completamente terminado, anda sozinho e sabe o que quer.


O homem quer ser peixe e pássaro, a serpente quisera ter asas, o cachorro é um leão desorientado, o engenheiro quer ser poeta, a mosca estuda para andorinha, o poeta trata de imitar a mosca, mas o gato quer ser só gato e todo gato é gato do bigode ao rabo, do pressentimento à ratazana viva, da noite até os seus olhos de ouro.


Não há unidade como ele, não tem a lua nem a flor tal contextura: é uma coisa só como o sol ou o topázio, e a elástica linha em seu contorno firme e sutil é como a linha da proa de uma nave. Os seus olhos amarelos deixaram uma só ranhura para jogar as moedas da noite.


Oh pequeno imperador sem orbe, conquistador sem pátria, mínimo tigre de salão, nupcial sultão do céu das telhas eróticas, o vento do amor na imterpérie reclamas quando passas e pousas quatro pés delicados no solo, cheirando, desconfiando de todo o terrestre, porque tudo é imundo para o imaculado pé do gato.


Oh fera independente da casa, arrogante vestígio da noite, preguiçoso, ginástico e alheio, profundissimo gato, polícia secreta dos quartos, insignia de um desaparecido veludo, certamente não há enigma na tua maneira, talvez não sejas mistério, todo o mundo sabe de ti e pertence ao habitante menos misterioso, talvez todos acreditem, todos se acreditem donos, proprietários, tios de gatos, companheiros, colegas, díscipulos ou amigos do seu gato.


Eu não. Eu não subscrevo. Eu não conheço o gato. Tudo sei, a vida e seu arquipélago, o mar e a cidade incalculável, a botânica, o gineceu com os seus extrávios, o pôr e o menos da matemática, os funis vulcânicos do mundo, a casaca irreal do crocodilo, a bondade ignorada do bombeiro, o atavismo azul do sacerdote, mas não posso decifrar um gato. Minha razão resvalou na sua indiferença, os seus olhos tem números de ouro.


(Navegaciones y Regresos, 1959)
Pablo Neruda

sexta-feira, 13 de março de 2009

Eu e o Lucas

Faz algumas semanas que eu entrei em comum acordo com a Duda para adquirirmos um animal de estimação. Já havia tentado com peixes, mas todos os três morreram. Pensei numa tartaruga, um rato, chinchila, tudo menos aves claro, mas ela queria um que pudesse tocar, brincar, acariciar, e eu claro um que eu pudesse me incomodar o menos possível e colocar numa gaiola quando viajasse.Sempre tive cachorros, gosto muito deles, mas como moro em "apertamento" e passo pouco tempo em casa acho triste ter que deixá-lo sozinho, seria muito egoísmo. A Babi, a poodle que foi minha preparação para um filho de verdade, hoje esta sob os cuidados do meu pai. Enfim, pensamos, conversamos e concordamos em adotar um gato. Não fazia idéia de como cuidar de um, mas sabia por amigos que eles davam menos trabalho e que se viravam muito bem sozinhos.Lá fui eu atrás dos gatos. Coincidentemente três pessoas tinham gatas com uma ninhada de dar inveja a coelhos. Poderia escolher. A Duda bateu os olhos num branquinho, de olhos azuis, praticamente gêmeo de outro, isso pra mim, porque no outro dia quando fomos buscar, ela viu os dois, pegou e disse: " É esse mãe, é esse, o de olhos azuis pequenos. Não o de olhos grandes." Pronto, ela já sabia até a diferença entre dois "iguaizinhos". Estava claro que era aquele o Lucas.

Claro que embora o gato seja da Duda, eu fico a maior parte do tempo com ele. Sempre preferi os cachorros, só agora percebi o quanto da personalidade do gato encontro em mim:

  • O gato, quando bem amado, dedica ao seu dono um amor intenso e incondicional. O que devemos perceber é que, diferente do cão (que considera o dono o líder da "matilha"), o gato nos considera como mais um membro do seu rol de convivência. Sabendo respeitar esse fato, certamente teremos um companheiro para todos os minutos (por isso minhas amigas não devem ter ciúmes, amo todas....);
  • Os gatos apresentam menos problemas com o período noturno do que o cão, quando recém-chegados. Na grande maioria das vezes, dormem, se alimentam e/ou brincam tranqüilos;
  • Ao passo que o cão tem maior adaptação ("molda-se") ao modo de vida da casa, o gato procura exercer sua liberdade, seguindo seus instintos hormonais (viu amigas, não tenho cérebro masculino, e sim instinto felino...rs);
  • Os felinos formam uma sociedade (e um contexto social) bastante complexa. A adaptação deve seguir alguns princípios básicos, evitando-se assim que o gato torne-se não-manipulável. Um desses princípios é não querer impor educação ao gato: devemos mostrar o correto e "conquistar" a aceitação do animal; ele deve aceitar seguir o nosso procedimento. Querer impor algo a um felino é pedir para que ele faça o contrário (acho que ficou claro, não?) ;
  • Os felinos têm uma intermitência acentuada entre sono, alimentação e atividades. Respeite esses períodos;
  • Os gatos domésticos gostam de se alimentar várias vezes ao dia, sempre em pouca quantidade (pequena quantidade, viu Sandra?);
  • No quesito higiene, os felinos usam defecar e/ou urinar em local errado como forma de protesto (sem comentários...) ;
  • Os felinos são muito metódicos e não gostam de mudanças em sua rotina;
  • É extremamente importante para os gatos, socialmente falando, manter suas unhas afiadas(e pintadas, no meu caso);
  • Os gatos são caçadores naturais; contudo, mesmo que você tente humaniza-lo, nunca conseguirá anular esse comportamento (não é ruim isso, eu juro!) ;
  • Só se consegue a amizade do gato, quando seu dono lhe tratar com carinho. (then...so...).

Obrigada a Luigi Leonardo Mazzucco Albano pelo vasto conhecimento em gatos, onde precisei buscar fontes para escrever sobre algo que esta tão enraizado, e ao mesmo tempo, tão obscuro. E obrigada a minha mais nova amiga Fran, que é amante e mãe dedicada de três lindos gatos carinhosamente acolhidos.

Se o Hinduísmo esta realmente certo, acho que já fui um gato...só pode...rs.