quinta-feira, 16 de outubro de 2008

E que venha a minha nova gramática...


"O Parlamento português aprovou o segundo protocolo modificado do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, o que encerra décadas de discussão sobre a questão”.
"As atualizações na ortografia brasileira estão dando o que falar. Algumas alterações são até difíceis de aceitar depois de tanto tempo na escola estudando hífens e acentos, de repente para certas palavras não existem mais”.
“A discussão sobre o Acordo dividiu a sociedade portuguesa: para muitos intelectuais, a decisão significa ceder a interesses do Brasil. Outros consideram uma estratégica em tempos de globalização”.

Metáforas à parte, minha vida também esta passando por uma adaptação, porém penso que o prazo para adequação a esta Nova Gramática não deva ser tão taxativo.Penso que nem sempre dei a devida atenção a pontuação em minha vida. Sou fã incondicional das famosas reticências, e totalmente receosa aos pontos finais. Esta seqüência de três pontos, sempre deixa coisas no ar, uma deliciosa sensação de que algo esta por vir, ou algo que ainda não foi feito, mas que poderia. Já o ponto final, indica uma pausa absoluta. E o absoluto muitas vezes assusta.
Porém nossa gramática tem tantos sinais gráficos que nortearam meu caminho, e os quais hoje percebo transmitem uma sensação exata e mágica de muitos momentos vividos, e outros que ainda estão por vir.
O Ponto de exclamação, por exemplo. Segundo a hipótese mais provável, este sinal surgiu da junção de letras da palavra io ("exclamação de alegria", em latim). Escrevendo com o i em cima do o, formando aquilo que viria depois a ser o ponto de exclamação. Exclamações do tipo: Eu sou livre!!!
Ta...confesso que desde criança a interrogação esta muito mais contida em meus pensamentos, do que a exclamação para minha vida. Crises existências; acasos da vida; compreensão do ser humano; a energia; Deus; o sincretismo; egocentrismo e o amor; são alguns de muitos temas por mim abordados intimamente, não necessariamente a sós.
Porém chega uma determinada hora, em que você precisa parar de abrir parênteses em sua vida, e ser fiel ao que te leva soltar em alto e bom tom uma expressão terminada com um lindo e emocionante ponto de exclamação; que sua vida pode ser realçada com um belo par de "virgulas dobradas", e que para você poder colocar estas lindas aspas tem que lembrar que ela só faz sentido se vier a dois. Um é pouco, e sim, três é demais e mais que isso foge ao meu português e entra numa matéria que detesto: matemática, a ciência do raciocínio lógico ou abstrato. Tem coisa mais incoerente que isso? Uma lógica abstrata. Muito frio pra mim. Voltemos ao Português.
Sim, estou disposta a abrir um novo parágrafo em minha vida, e quem sabe até escrever um livro. Muitos já sugeriram. Porém para criar um esboço da próxima obra literária, ou apenas mais um conto, tive que acabar de ler aquele livro que não saia da minha cômoda, onde o final deveria ser escrito por quem o lesse. E era eu quem estava lendo.
Amo ler. Porém se começo um livro, e não o leio no máximo dentro de uma semana, pode ter certeza, não o indicarei a mais ninguém. Até tento retomar a leitura, algumas vezes aos trancos e barrancos consegui terminar, mas a crítica não era boa. Bom mesmo, é aquele livro que te prende horas a fio, e você não consegue largá-lo enquanto não acabar. Sim, este você indica, da de presente, ou até empresta, mas deixa o seu nome gravado, uma dedicatória ou uma marca pra ele voltar pra você, mesmo que o final não seja o esperado. Livros bons sempre têm finais emocionantes. O meu não poderá ser diferente. Por isso tive que ler aquele livro até o final e escrever o último capitulo. Eu o estava lendo e embora este livro fosse escrito não apenas por um autor e sim et alii, não pude negociar o final. Sugestões vieram, tentativas de negociações foram lançadas, porém o ultimo capitulo deste livro cabia a mim, apenas a mim. Tinha que ser fiel a meu gênero, e confesso o final não foi emocionante, porém não acabou com reticências e sim com um ponto final. Mas o que eu poderia esperar de um livro que demorei anos pra ler?


E que venha a Nova Gramática...(amo novas reticências...).

sábado, 11 de outubro de 2008

E viva a criatividade!!!

Era a terceira vez que aquele substantivo e aquele artigo se encontravam no elevador. Um substantivo masculino, com um aspecto plural, com alguns anos bem vividos pelas preposições da vida. E o artigo era bem definido, feminino, singular: era ainda novinha, mas com um maravilhoso predicado nominal.
Era ingênua, silábica, um pouco átona, até ao contrário dele: um sujeito oculto, com todos os vícios de linguagem, fanáticos por leituras e filmes ortográficos. O substantivo gostou dessa situação: os dois sozinhos, num lugar sem ninguém ver e ouvir. E sem perder essa oportunidade, começou a se insinuar, a perguntar, a conversar.
O artigo feminino deixou as reticências de lado, e permitiu esse pequeno índice. De repente, o elevador pára, só com os dois lá dentro: ótimo, pensou o substantivo, mais um bom motivo para provocar alguns sinônimos.
Pouco tempo depois, já estavam bem entre parênteses, quando o elevador recomeça a se movimentar: só que em vez de descer, sobe e pára justamente no andar do substantivo. Ele usou de toda a sua flexão verbal, e entrou com ela em seu aposto. Ligou o fonema, e ficaram alguns instantes em silêncio, ouvindo uma fonética clássica, bem suave e gostosa. Prepararam uma sintaxe dupla para ele e um hiato com gelo para ela. Ficaram conversando, sentados num vocativo, quando ele começou outra vez a se insinuar. Ela foi deixando, ele foi usando seu forte adjunto adverbial, e rapidamente chegaram a um imperativo, todos os vocábulos diziam que iriam terminar num transitivo direto. Começaram a se aproximar, ela tremendo de vocabulário, e ele sentindo seu ditongo crescente: se abraçaram, numa pontuação tão minúscula, que nem um período simples passaria entre os dois. Estavam nessa ênclise quando ela confessou que ainda era vírgula; ele não perdeu o ritmo e sugeriu uma ou outra soletrada em seu apóstrofo. É claro que ela se deixou levar por essas palavras, estava totalmente oxítona às vontades dele, e foram para o comum de dois gêneros. Ela totalmente voz passiva, ele voz ativa. Entre beijos, carícias, parônimos e substantivos, ele foi avançando cada vez mais: ficaram uns minutos nessa próclise, e ele, com todo o seu predicativo do objeto, ia tomando conta. Estavam na posição de primeira e segunda pessoa do singular, ela era um perfeito agente da passiva, ele todo paroxítono, sentindo o pronome do seu grande travessão forçando aquele hífen ainda singular.
Nisso a porta abriu repentinamente. Era o verbo auxiliar do edifício. Ele tinha percebido tudo, e entrou dando conjunções e adjetivos nos dois, que se encolheram gramaticalmente, cheios de preposições, locuções e exclamativas. Mas ao ver aquele corpo jovem, numa acentuação tônica,ou melhor, subtônica, o verbo auxiliar diminuiu seus advérbios e declarou o seu particípio na história. Os dois se olharam, e viram que isso era melhor do que uma metáfora por todo o edifício. O verbo auxiliar se entusiasmou e mostrou o seu adjunto adnominal. Que loucura, minha gente. Aquilo não era nem comparativo: era um superlativo absoluto.Foi se aproximando dos dois, com aquela coisa maiúscula, com aquele predicativo do sujeito apontado para seus objetos. Foi chegando cada vez mais perto, comparando o ditongo do substantivo ao seu tritongo, propondo claramente uma mesóclise-a-trois. Só que as condições eram estas: enquanto abusava de um ditongo nasal, penetraria ao gerúndio do substantivo, e culminaria com um complemento verbal no artigo feminino.O substantivo, vendo que poderia se transformar num artigo indefinido depois dessa, pensando em seu infinitivo,resolveu colocar um ponto final na história: agarrou o verbo auxiliar pelo seu conectivo, jogou-o pela janela e voltou ao seu trema, cada vez mais fiel à língua portuguesa, com o artigo feminino colocado em conjunção coordenativa conclusiva.
Redação feita por uma aluna do curso de Letras, da Universidade Federal de Pernambuco (Recife), que venceu um concurso interno promovido pelo professor titular da cadeira de Gramática Portuguesa.