domingo, 21 de setembro de 2008

Autor(es) desconhecido(s).


Nós estavamos sentadas almoçando quando minha filha casualmente menciona que ela e seu marido estão pensando em "começar uma família":
-Nós estamos fazendo uma pesquisa, ela diz, meio de brincadeira. Você acha que eu deveria ter um bebê?
-Vai mudar a sua vida - eu digo cuidadosamente mantendo meu tom neutro.
-Eu sei. Nada de dormir até tarde nos finais de semana, nada de férias espontâneas.
Mas não foi nada disso que eu quis dizer. Eu olho para a minha filha, tentando decidir o que dizer a ela. Eu quero que ela saiba o que ela nunca vai aprender no curso de casais grávidos. Eu quero lhe dizer que as feridas físicas de dar à luz irão se curar, mas que se tornar mãe deixará uma ferida emocional tão exposta que ela estará para sempre vulnerável. Eu penso em alertá-la, que ela nunca mais vai ler um jornal sem se perguntar:"E se tivesse sido o MEU filho?"
Que cada acidente de avião, cada incêndio irá lhe assombrar. Que quando ela vir fotos de crianças morrendo de fome, ela se perguntará se algo poderia ser pior do que ver seu filho morrer. Olho para suas unhas impecáveis, seu terno estiloso e penso que não importa o quão sofisticada ela seja, se tornará mãe e irá reduzi-la ao nível primitivo da ursa que protege seu filhote. Que um grito urgente de "Mãe" fará com que ela derrube um suflê com sua melhor louça sem hesitar nem por um segundo.
Eu sinto que deveria avisá-la que não importa quantos anos ela investiu em sua carreira, ela será arrancada dos trilhos profissionais pela maternidade. Ela pode conseguir uma escolinha, mas um belo dia ela entrará numa importante reunião de negócios e pensará no cheiro do seu bebê. Ela vai ter que usar cada milímetro de sua disciplina para evitar sair correndo para casa, apenas para ter certeza de que o seu "bebê" está bem. Eu quero que a minha filha saiba que decisões do dia a dia não mais serão rotina. Que a decisão de um menino de 5 anos de ir ao banheiro masculino ao invés do feminino no Mcdonalds se tornará um enorme dilema. Que ali mesmo, em meio às bandejas barulhentas e crianças gritando, questões de independência e gênero serão pensadas contra a possibilidade de que um molestador de crianças possa estar observando no banheiro. Não importa o quão assertiva ela seja no escritório, ela se questionará constantemente como mãe. Olhando para minha atraente filha, eu quero assegurá-la de que o peso da gravidez ela perderá eventualmente, mas que ela jamais se sentirá a mesma sobre si mesma. Que a vida dela, hoje tão importante, será de menor valor quando ela tiver um filho. Que ela aprenderá a dar o verdadeiro valor a sua mãe. Saberá que uma noite tranquila não significa que foi dormida por inteiro. Que daria sua vida num segundo para salvar sua cria, mas que ela também começará a desejar por mais anos de vida, não para realizar seus próprios sonhos, mas para ver seus filhos realizarem os deles.
Eu quero que ela saiba que a cicatriz de uma cesárea ou estrias se tornarão medalhas de honra. O relacionamento de minha filha com seu marido irá mudar, mas não da forma como ela pensa. Eu queria que ela entendesse o quanto mais se pode amar um homem que tem cuidado ao passar talco num bebê ou que nunca hesita em brincar com seu filho. Eu acho que ela deveria saber que ela se apaixonará por ele novamente por razões que hoje ela acharia nada românticas, e que o contrário a tudo isso a faria pensar no porquê casará com esse homem.
Eu gostaria que minha filha pudesse perceber a conexão que ela sentirá com as mulheres que através da história tentaram acabar com as guerras, o preconceito e com os motoristas bêbados. Eu espero que ela possa entender porque eu posso pensar racionalmente sobre a maioria das coisas, mas que eu me torno temporariamente insana quando eu discuto a ameaça da guerra nuclear para o futuro de meus filhos. Eu quero descrever para minha filha a enorme emoção de ver seu filho aprender a andar de bicicleta. Eu quero mostrar a ela a gargalhada gostosa de um bebê que está tocando o pelo macio de um cachorro ou gato pela primeira vez. Eu quero que ela prove a alegria que é tão real que chega a doer.
O olhar de estranheza da minha filha me faz perceber que tenho lágrimas nos olhos
-Você jamais se arrependerá - digo finalmente.
Então estico minha mão sobre a mesa, aperto a mão da minha filha e faço uma prece silenciosa por ela, e por mim, e por todas as mulheres meramente mortais que encontraram em seu caminho este que é o mais maravilhoso dos chamados. Este presente abençoado de Deus que é ser Mãe.


sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Quem somos nós?

Ano passado resolvi entrar de cabeça nessa história de quebra de paradigmas, e sabe o resultado disso tudo? Definitivamente isso não serve, sempre, pra mim. Mas como costumo argumentar, arranque disso o que te servir, e aproveite ao máximo para seu benefício.
O livro é bem bacana, uma leitura gostosa, nos leva a uma auto-avaliação se você estiver disposto a isso, diferente do filme, que é a meu ver é utópico demais. O livro foi escrito após o filme, contrariando a ordem natural das coisas. Ao final de cada capítulo, apresenta um número X de perguntas levando o leitor a refletir sobre seus próprios paradigmas. Perguntas como:

Existe o certo e o errado universal?
Quais são os dogmas da sua vida?
O que significa espiritualidade para você?
Você sabotou sua própria busca da verdade?
Que paradigma governa a sua realidade?
Você esta disposto a abandonar tudo o que se relaciona com o velho paradigma?
Qual a diferença entre a realidade e a sua percepção da realidade?
É possível mudar sua percepção da realidade sem mudar seu paradigma?
Você consegue ver qualquer coisa que exista fora do seu estado emocional?
Você esta disposto a experimentar o que esta além do conhecido?
A realidade continua a existir quando você não a esta observando?
Se os pensamentos podem afetar a estrutura molecular da água, o que seus pensamentos estão fazendo à sua realidade?
Quando foi a última vez que você teve um orgasmo em nível mais elevado?
Por que parece tão gostoso se sentir tão mal?
O que de pior pode acontecer se eu disser a verdade?
Você esta disposto a abrir mão de tudo em seu paradigma atual para realizar o seu deseja?
Isso é necessário?

Geralmente não nos fazemos grandes perguntas porque as respostas podem não ser o que desejamos, e isso nos assusta. Afinal, seria seguro sair dessa zona de conforto? Ao ler o livro, pude concluir que os paradigmas vão sempre existir, o que podemos fazer é mudar de paradigma, ou seja, novos olhos enxergando uma situação antiga. Parece simples, mas não é. Tente. Eu mesma tentei, e vou continuar tentando, mas dentro da "minha realidade", não estou disposta a passar por cima de certas coisas para obter o que desejo. O que tento fazer, é ter novas experiências, para construir uma nova realidade e perceber uma nova emoção. Isso também não é fácil, porque tenho um estoque de lembranças, emoções e associações dentro de mim que formam minha atual realidade. Mas já dei um grande passo. Não sinto mais culpa pelo que desejo, mesmo que meus desejos sejam contra meus paradigmas. Isso não quer dizer que me jogarei de cabeça a qualquer frio na barriga, mas se a trajetória completa de nossas vidas é gerada por nossas escolhas, escolhas estas que fazemos ou deixamos de fazer; para crescermos precisaríamos experimentar o que não é a primeira opção do nosso ego. Se continuarmos a experimentar a mesma emoção e nunca a aposentarmos, tornando-a sabedoria, não evoluiremos, e evoluir é a minha meta. Concordo portando que se desejo evoluir como pessoa, o sensato seria pegar uma limitação que tenho e agir conscientemente para alterá-la.A grande virada seria aceitar que sua vida e os acontecimentos nela são criação sua e conseqüentemente procurar o significado deles, em vez de pedir ao "universo" que prove o fato de você criar a realidade e assim poder ficar em cima do muro e aceitar ou rejeitar o que vier.

Thoreau


"Se você construiu castelos no ar, o seu trabalho não precisa estar perdido; é lá que eles devem ficar. Agora ponha os alicerces por baixo deles."

sábado, 6 de setembro de 2008

Fernando Pessoa, 1931.

Eu amo tudo o que foi,
Tudo o que já não é,
A dor que já me não dói,
A antiga e errônea fé,
O ontem que dor deixou,
O que deixou alegria
Só porque foi, e voou
E hoje é já outro dia.