segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Casa sem quintal


Essa montagem mostra o que aconteceu com o quintal que amava, ou melhor, ainda amo. Eu cresci. Ele não me parece mais tão gigante. Não tem mais viveiros, curral. Não tem mais as plantações de couve, nem a casa centralizada ao fundo. Não tem mais a Suli, a primeira cachorra. E graças a Deus não tem mais o galinheiro. O caminho que me levava pra casa ou para o galinheiro continua lá. As pequenas flores do mato ainda florescem e hoje é minha filha quem as colhe para mim. No lugar da casa cresceu uma enorme árvore, onde meu pai colocou um pequeno balanço pra Duda brincar. Amo essa árvore. O quintal é repleto de bananeiras onde meu pai adora exibir e colher as "diversas qualidades de bananas", como ele bem diz. Perguntam o porquê de não construir uma casa nesse quintal, afinal ainda é bastante grande e facilitaria muito a minha vida deixando a Duda perto com meus pais quando fosse trabalhar. Respondo que sempre penso nisso, que já planejei diversas vezes, que não tiraria a árvore, construiria ao lado. Mas temo. Não mais as galinhas, elas não estão mais lá, temo sim por esse terreno não pertencer somente a uma pessoa. Tem meus pais, meu tio e minha avó. E sempre podem surgir mais donos né? Afinal meu tio tem três filhas, de dois casamentos, e depois também não sou filha única. Não me sentiria segura em colocar minha casa num terreno que mais tarde podem brigar por ele. Acabei comprando um apartamento. Financiado claro, mas é só meu. Posso fazer o que bem quiser com ele, inclusive esta à venda. Quero um mais perto do quintal que não é meu, mas que minha filha possa brincar e colher flores pra mim, e poderei colocar na nossa casa sem quintal, apenas com um cachorrinho prometido num momento de fraqueza, mas que tem a nossa cara. Que nos acolhe, da segurança, e que mesmo com pouco espaço pra brincar, tem uma escada onde nos lambuzamos tomando picolé que não foi prêmio de suborno, e sim desejado ao ouvir o apito gostoso do picolezeiro passando. Corremos pro cofrinho. Catamos as moedas. Então sentamos as duas na escada, olhando pra fora, lambuzando as mãos e o chão com o picolé de cinqüenta centavos mais gostoso do mundo. Ela sabe que ali é nosso, que podemos visitar o vovô, mas que à noite voltaremos pra nossa pequena casa sem quintal, e que a qualquer momento nossa casa pode mudar, e quem sabe até ter um quintal ou um playground, talvez não tão gigante, e talvez tenhamos que compartilhar o parquinho com outras pessoas. Mas é a nossa casa. Só nossa. O quintal, o playground, isso a gente divide. Agora o gosto do picolé na escada da nossa casa...não, esse cada um sente o seu.

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